Paróquia de Santa Luzia terá baile pré-carnavalesco

Isaac Daniel
Isaac Daniel 7 minutos

Evento vai acontecer pela primeira vez em 200 anos de paróquia. Dinheiro arrecadado será usado na reforma do teto de igreja.

De: Estado de Minas Cidades

Folia do bem. O samba entra em território sagrado, põe fé na alegria e ajuda a preservar o patrimônio cultural e manter as tradições religiosas. Pela primeira vez em sua história de mais de 200 anos, a Paróquia de Santa Luzia, em Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), vai promover um baile pré-carnavalesco, no qual só vão entrar marchinhas e enredos de escolas de samba. “Será um carnaval como nos velhos tempos, totalmente familiar”, adianta o titular da paróquia, padre Danil Marcelo dos Santos, sem receio de unir o sacro ao profano: “Estou tranquilo, pois a religião não é para ser vivida só dentro da igreja. Aqui não teremos axé, funk ou pancadão”. O dinheiro arrecado na festa do dia 2 de fevereiro será usado em obras de restauração dos templos coloniais da paróquia e nas cerimônias da semana santa.

O convite para o grito de carnaval, que terá palco no espaço de eventos ao lado da Igreja do Rosário, no Centro Histórico, foi feito durante as missas no Santuário de Santa Luzia e ganhou imediata adesão dos católicos. “As vendas estão um sucesso. Conseguimos vender todas as 150 mesas e dispomos dos últimos ingressos individuais, de um total de 400”, disse ontem o padre Danil, que buscou a ideia para promover o pré-carnavalesco nos seus tempos de adolescência, em Caeté, também na RMBH, onde nasceu e foi criado. “Antes de me tornar sacerdote, brinquei muito nos clubes Ferro Brasileiro e Funcionários. Participar da festa não tem nada de mais”, conta o pároco, que já organizou outras festas no mesmo local com grande presença dos jovens.

CONCURSO Ao entrar na matriz, na Rua Direita, os devotos encontram cartazes sobre a festa, que começará às 22h e terminará às 3h. “Pedimos para as pessoas vestirem fantasias, mas que não seja nada caro. Teremos um concurso e premiação para as melhores dos homens e mulheres”, contou padre Danil, que vai “de padre mesmo”, ou seja, de roupa normal, segundo ele. Sem saber ainda quanto vai arrecadar com a festa – só com ingressos e mesas serão R$ 18 mil –, o padre diz que há muito para fazer pelo patrimônio cultural e espiritual . “As cerimônias da semana santa movimentam o turismo, o comércio e ficam muito caras para a paróquia. As procissões são acompanhadas de banda de música e coro e as figuras bíblicas precisam de roupas, já que as velhas estão muito estragadas”, afirma, lembrando que as celebrações em Santa Luzia são centenárias e demandam trabalho e dedicação.

O certo mesmo é que o “grito” anima a cidade, que este ano não terá programação oficial durante o reinado de Momo, segundo informações da atual administração. “Quem sabe poderemos até repetir a dose durante o carnaval? O problema é que temos uma equipe muito pequena”, diz o padre. Na tarde de ontem, muita gente foi à matriz para comprar ingressos. O casal Gentil e Cleusa Carvalho, que morou 42 anos no Rio de Janeiro (RJ) e está restabelecido na cidade, garantiu os seus. “A iniciativa do padre Danil é ótima e temos certeza de que será muito organizado. Já que não teremos outra festa na cidade, vamos nos divertir com a bênção de Deus”, diz Gentil. A festa será animada pelo bloco Sem Noção e o DJ JB.

O dono de bufê Daniel Marcelo dos Santos, da vizinha Jaboticatubas, também foi à igreja para comprar ingressos para o baile. “É importante participar, pois o dinheiro será aplicado em obras de restauração e na semana santa”, disse. A funcionária da paróquia Antônia Maria Claret da Silva Carvalho está formando um bloco de melindrosas. “Vou lembrar dos meus tempos de infância e adolescência, quando saía pela rua nos blocos. Já costurei muita fantasia e sei que teremos uma bela festa”, diz Antônia.

IMAGENS A preservação do patrimônio merece ação constante do padre Danil. Com dinheiro do dízimo e das promoções, ele já restaurou 16 imagens e agora vai mandar para o ateliê de conservação e restauração mais três – as de Nossa Senhora da Boa Morte, Santa Rita e Nossa Senhora da Soledade, da Capela do Bonfim (século 18). Estão concluídas as restaurações das imagens de São João Nepomuceno, São Braz, Santana Mestra, Nossa Senhora do Rosário, São Benedito, São Domingos Gusmão, Santo Hilário, Coração de Jesus.

Uma preocupação do padre é a Igreja do Rosário, que está com a sacristia interditada devido às chuvas de novembro. Ele aguarda a chegada de técnico do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha-MG) para fazer o conserto no forro.

Outros tempos – Festa após as missas (Teresa Caram)

Em meados dos anos 1970 – eu era criança –, havia um padre jovem, cheio de planos e vontade de trabalhar com os jovens, chegando à Paróquia dos Santos Anjos da Guarda, no Bairro Caiçara, Região Noroeste de Belo Horizonte. Na época, chamado por muitos de revolucionário, o padre Antônio Gonçalves instituiu o carnaval no salão de festas da igreja. Todos os anos, logo após a missa da manhã de domingo, começava a matinê de carnaval que reunia crianças, jovens, adultos e idosos. Com a boa marchinha, brincávamos até cansar, entre confetes e serpentinas. E padre Antônio lá, acompanhando e se divertindo com a folia. Essa atitude do pároco, inédita para a ocasião, permitiu a ele se aproximar da juventude para fundar a Jusag, um grupo que reunia adolescentes e jovens em projetos de evangelização. Não é demais dizer que padre Antônio Gonçalves fez história na igreja.

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Faço conteúdo para a internet desde 2011. Entusiasta de urbanismo, história e genealogia.